domingo, 30 de setembro de 2012

Artes da Vida II


Já todos ouvimos falar de “profissões de desgaste rápido”. Há muito tempo que a sua definição e caracterização estão vertidas em diversos estudos e, sobretudo, em diplomas legais, que as enumeram. Nada contra, e até acho que algumas delas continuam a ser, mais do que nunca profissões de desgaste rápido, sejam porque se trata de pessoas que exercem alguns tipos de alta competição, ou porque estão constantemente em risco de sofrer danos graves, de cada vez que saem para trabalhar, seja por outro motivo qualquer… Não percebo, porém, porque é que há profissões que, aos olhos dos dias de hoje e das mudanças que se foram efectuando, não são consideradas de desgaste rápido! Passo a explicar – Um dos sectores que sofreu profundíssimas alterações, e não é o objectivo deste breve escrito explicar quais foram e porque se deveram, foi o sector bancário, onde trabalham dezenas de milhares de pessoas, em diversos Bancos e em diversos tipos de funções, isto apenas para falar em Portugal.
Sim, pertenço ao sector e trabalho num dos Bancos que fazem parte do sistema financeiro português. Sou, portanto, o que na gíria se designa de bancário! Já lá vão 22 anos que entrei para este sector, não no mesmo banco, mas já há alguns anos que estou no que actualmente desempenho funções.
Ao longo destes anos já vi quase de tudo, desde projectos denominados altamente inovadores e que não foram mais do que um valente fracasso, já ouvi falar de equipas de projecto que não tiveram qualquer resultado efectivo do trabalho que realizaram, e algumas delas, fizeram excelentes trabalhos, que muitas vezes eram parados, pelo simples facto de as ideias serem boas, mas não terem sido tidas por pessoas hierarquicamente mais lata e que, por manifesta falta de caracter e sobretudo de vocação, para ocuparem esses lugares, as travaram, já vi pessoas que começando por serem bancários normais, e depois progrediram na carreira, depressa se tornaram em pessoas desprovidas do caracter que por todos era conhecido, tornando-se em algo ou alguém cuja qualificação não sei se existe, também já vi pessoas altamente competentes e que estão ou foram subaproveitadas, porque faziam “sombra” á sua hierarquia, coisa que não é possível acontecer. E, obviamente, vi projectos e pessoas que nunca deveriam ter sido contratados ou sequer pensados, mas tiveram de ser para não se ferir susceptibilidades ou se ser politicamente correctos.
Vi bancos serem tomados, desaparecerem, serem nacionalizados, falirem, vi administradores condenados em praça pública sem antes serem pronunciados de qualquer crime, vi pessoas serem afastadas porque não agradavam ao senhor “x”, e por isso não podiam ser elementos dessa equipa, e sobretudo vi medo de serem pessoas normais, Pais ou Mães de Família, com necessidade de subsistirem e de fazerem e contribuírem numa pluralidade de ideias e de criatividade para, não só desempenharem as suas funções como ser-lhes dado esse estímulo “verdadeiro” de serem parte de um banco, de uma estratégia, de também poderem achar que de facto, o tão pronunciado compromisso com o capital humano que, recorde-se, sem o qual nenhum banco sobrevive, existe mesmo e de uma forma sincera.
Até isso acontecer, e salvo melhor opinião, as pessoas são e ficam rapidamente desgastadas.

Luís Sampaio Pimentel
22 de Agosto de 2012



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